segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Eros e Ágape

Como citado anteriormente, a religião exprimia um papel fundamental na vida da sociedade nos séculos XI e XII, principal momento do movimento do trovadorismo provincial, ou seja, as poesias cantadas que apareceram na Europa, sofrendo certa influência do oriente. No entanto, é interessante entender não apenas o contexto religioso, como também a mentalidade do homem medieval e galego-português, para que possamos analisar suas cantigas.


Nesse momento se opõem duas visões de amor, que mostraram-se presentes historicamente e culturalmente falando. O amor Antigo, amor creditado pelos gregos, pode ser chamado de Eros, tal qual o deus Eros da mitologia, nascido de Afrodite e Ares, mais conhecido como cupido


Representação de Eros


Eros não era visto somente como uma representação divina, mas como o desejo que existia em todo ser, impulsionando-o a buscar o prazer, guiado pelo desejo. Para eles, tratava-se de um desejo inevitável e incontrolável, o qual saciava-se as necessidades e também buscava através das relações carnais, saciar o prazer. Eros é o desejo da união de almas, “isto é, fusão essencial do indivíduo no deus.” Como bem aponta Rougemont em seu livro O amor e o Ocidente. O homem, como indivíduo separado, portanto prisioneiro, sofria por seu erro, deveria elevar-se ao deus, à sua perfeição.


Contrariamente do que acredita-se hoje, na visão de amor de Eros, a paixão era como uma doença, não honrada e não bela. Tratava-se então de um amor puramente carnal na busca da perfeição divina.


A visão de amor manifesta mudanças depois do Cristianismo, ou o amor Ágape. O amor passa a ser partilha de sentimento, não mais egoísta. É importante “amar o próximo como a ti mesmo”. O companheiro passa a ser a manifestação mais concreta do “próximo” que deve ser amado pelo seu eu e não por um fim “egoísta”. Então, justifica-se aí a castidade, que era símbolo de honra, respeito e amor.


“Renascimento de Eros”
No entanto, os trovadores nos apresentam certas contradições em suas cantigas de amor, ao fazerem referência e apelar à beleza física da mulher, elevando-a ao patamar acima do seu. Com certeza, não trata-se de um reflexo social, já que a mulher não deixou de desempenhar seu papel como submissa. Porém, mostra o desejo Eros latente e sobrevivente, contracenando com Ágape. É o que Rougemont vai chamar de “Renascimento de Eros”.
Representação tardia e atual de Eros - Cupido


Amor Cortês
O “renascimento de Eros” faz-se presente em cantigas de amor, o Amor Cortês, ou seja, a manifestação do amor do trovador pela sua amada (ou senhor - era como a mulher era chamada).  O trovador cantava seu lamento e seu cortejo, manifestando seu amor infeliz por uma senhor impossível de alcançar, seja por razões sociais, diferenças de classes, indiferença da dama ou mesmo pelas “Leys d’amors”. Dessa forma, assumia uma posição de servo da mulher.
Perante tal observação, acredita-se que essa visão sobre o feminino tenha sofrido influência celta, que após as invasões, espalharam suas crenças pela Europa.


Leys d’amors
Como apontado anteriormente, todos os indivíduos tinham papéis bem definidos dentro da sociedade de acordo com sua classe social. Não sabiam dos seus papéis como o desempenhavam-no, respeitando a hierarquia social. As Leys d’amors são também normas sistemáticas e fixas.


Heresia - amor cortês e amor carnal
Como bem sabemos, a Igreja prega que o amor carnal é um heresia e que as almas devem juntar-se no casamento.
Dessa forma, é possível pensar que as cantigas provençais de amor são heresias praticadas por cristãos. Uma das teorias mais aceitas, de Wechssler, trata-se de expressar na lírica cortês os sentimentos e visões religiosas da época. Já Jeanroy rebate afirmando que muitas das cantigas podem ter sido reproduzidas e terem perdido o seu sentido inicial.
Basicamente, trazendo para a atualidade, é possível comparar a visão de Jeanroy com as músicas atuais, em que muitas vezes os indivíduos reproduzem sem preocupação com o conteúdo. No entanto, trata-se da visão da reprodução, que não engloba a visão do trovador no momento de se manifestar. Pensando por esse viés é possível dar razão à Wechssler, já que os trovadores poderiam estar expressando resquícios de seu passado e sua relação com Eros.


Para saber mais
Trecho do mito de Eros - Platão:
http://faf1043.blogspot.com.br/2006/06/6-o-mito-do-nascimento-de-eros.html
Eros e Psiquê:
http://literarteentrepedraseflores.blogspot.com.br/2012/02/eros-deus-grego-do-amor-e-do-desejo.html


Representação artística atual do amor cortês


Referências:
FERNANDES, Claúdio. Amor cortês medieval. sem data. Online. Disponível em: <http://historiadomundo.uol.com.br/idade-media/amor-cortes-medieval.htm>. Acesso: 25 set. 2016.
GAUDARD, Jaqueline. 5 fev. 2012. Online. Disponível em: <http://literarteentrepedraseflores.blogspot.com.br/2012/02/eros-deus-grego-do-amor-e-do-desejo.html>. Acesso em 25 set. 2016.
ROCHA, Ronai. O mito do nascimento de Eros. 07 jun. 2006. Online. Disponível em: <http://faf1043.blogspot.com.br/2006/06/6-o-mito-do-nascimento-de-eros.html>. Acesso em 26 set. 2016.
ROUGEMONT, de Denis. O amor e o Ocidente. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara S. A., 1988, p. 46 - 63; 74.

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